O Estudo de Capital de Giro 22/23, realizado pela PwC, trouxe à tona uma situação financeira intrigante: existe um excesso de capital de giro, na ordem de 1,5 bilhões de euros, simplesmente parado nos balanços das empresas. Essa descoberta indica que uma quantidade expressiva de recursos financeiros está imobilizada, quando, na verdade, poderia ser aplicada de forma mais estratégica e benéfica. Este fato destaca que ainda há um vasto campo para a otimização de processos e a redução de custos nas organizações.
O mesmo estudo mostra que o foco das empresas têm sido muito maior em seu processo de contas a receber, e isso tem ajudado a melhorar a situação financeira em empresas de vários setores. Ao mesmo tempo, o atraso nos pagamentos para seus fornecedores não está sendo a estratégia principal usada para melhorar as finanças. Na verdade, em alguns setores, o tempo para realizar pagamentos aos fornecedores até diminuiu.
A administração financeira exige uma análise cuidadosa e uma estratégia bem definida em relação ao capital de giro, um elemento essencial que garante a operação contínua das atividades diárias de uma empresa. Este elemento não só mantém as operações do dia a dia, mas também, quando gerido com precisão, pode alavancar uma empresa para novos patamares de sucesso e estabilidade no mercado.
Neste artigo, vamos explorar o conceito de capital de giro, elucidando sua definição, finalidade, indicadores relevantes e os desafios associados à sua gestão eficaz. Além disso, vamos discutir como a tecnologia, mais especificamente o Process Mining, pode ser um aliado valioso na otimização e gerenciamento deste recurso indispensável.
Convidamos você a se juntar a nós nesta jornada, visando fortalecer e aprimorar a gestão financeira de sua organização com percepções e estratégias práticas.
O que é Capital de Giro?
O capital de giro refere-se aos recursos necessários para financiar a continuidade das operações do dia a dia. Ele é calculado como a diferença entre os ativos circulantes e os passivos circulantes de uma organização, representando, assim, a saúde financeira e a liquidez operacional no curto prazo.
Os ativos circulantes incluem caixa, contas a receber, e outros ativos que podem ser convertidos em dinheiro em um período de até um ano. Por outro lado, os passivos circulantes abrangem dívidas e outras obrigações que serão liquidadas no mesmo intervalo de tempo.
Tipos de Capital de Giro:
- Capital de Giro Próprio: Este é financiado por recursos próprios da empresa, ou seja, oriundos de seu patrimônio líquido. Ele é calculado pela diferença entre ativos permanentes e passivos permanentes e é vital para garantir a autonomia financeira da organização.
- Capital de Giro de Terceiros: Este é derivado de recursos externos, como empréstimos e financiamentos. Embora seja útil para alavancar operações, é crucial gerenciá-lo adequadamente para evitar endividamentos insustentáveis.
- Capital de Giro Líquido: Representa a diferença entre os ativos circulantes e os passivos circulantes, sendo um indicador direto da liquidez corrente da empresa e sua capacidade de cumprir com as obrigações de curto prazo.
O capital de giro, além de um indicador da capacidade da empresa em saldar suas dívidas, é também um reflexo de sua eficiência operacional e estratégia financeira. Uma gestão adequada do capital de giro não só previne a empresa contra possíveis crises financeiras, mas também assegura que os recursos estejam disponíveis para investimentos estratégicos e aproveitamento de oportunidades de mercado.
Para que serve o Capital de Giro?
O capital de giro é um verdadeiro facilitador estratégico que permeia todas as operações de uma empresa. Sua presença e gestão adequada são cruciais para a sustentabilidade e crescimento de uma organização, especialmente em um ambiente de negócios que é, por natureza, dinâmico e competitivo.
Liquidez Operacional: O capital de giro assegura que a empresa possua liquidez suficiente para cobrir suas obrigações de curto prazo. Isso inclui pagamentos a fornecedores, salários de funcionários e outras despesas operacionais que, se não forem geridas adequadamente, podem resultar em interrupções operacionais e danos à reputação da empresa.
Exploração de Oportunidades: A disponibilidade de capital de giro permite que a empresa explore novas oportunidades de mercado, como lançamento de produtos, expansão para novas regiões ou aproveitamento de ofertas de fornecedores. A capacidade de agir rapidamente em tais oportunidades pode ser um diferencial competitivo significativo.
Mitigação de Riscos Financeiros: Uma gestão eficiente do capital de giro também serve como uma rede de segurança, permitindo que a empresa navegue com mais segurança através de períodos de incerteza ou volatilidade no mercado, mitigando riscos financeiros e protegendo sua operacionalidade contra imprevistos.
Sustentabilidade e Crescimento: A estabilidade financeira proporcionada por um capital de giro saudável é fundamental para sustentar as operações e investir em iniciativas que impulsionem o crescimento da empresa. Isso pode incluir investimentos em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, e expansão de infraestrutura.
Relacionamento com Stakeholders: Manter um capital de giro positivo e estável também reforça a confiança dos stakeholders, incluindo investidores, fornecedores e clientes, demonstrando a solidez financeira da empresa e sua capacidade de cumprir com suas obrigações financeiras e operacionais.
Como Calcular?
A base para o cálculo do capital de giro é relativamente simples, mas essencial para entender a liquidez e a saúde financeira de uma empresa no curto prazo. Ele se dá através da subtração dos passivos circulantes dos ativos circulantes.
Fórmula básica:
Capital de giro ou NWC* = ativos circulantes – passivos circulantes
*NWC, do inglês Net Working Capital, é o mesmo que Capital de Giro Líquido e é uma métrica que reflete a capacidade da empresa de continuar suas operações e atender suas obrigações de curto prazo.
- Ativos Circulantes: Incluem caixa, contas a receber, estoques e outros ativos que podem ser convertidos em caixa dentro de um ano.
- Passivos Circulantes: Englobam todas as dívidas e obrigações que devem ser pagas dentro de um ano.
Esta fórmula básica nos dá uma visão inicial da capacidade da empresa de cobrir suas obrigações de curto prazo com os ativos mais líquidos que possui.
Indicadores Importantes na Gestão de Capital de Giro
Entretanto, além do cálculo básico, existem vários indicadores financeiros que proporcionam insights mais profundos sobre a eficiência operacional e a saúde financeira da empresa. Vamos explorar a fundo cada indicador:
1. Índices de Liquidez:
Índice de Liquidez Corrente: Este índice avalia a capacidade da empresa de cumprir suas obrigações de curto prazo utilizando seus ativos circulantes. Um valor acima de 1 é geralmente considerado saudável, enquanto um valor abaixo de 1 pode indicar problemas de liquidez iminente.
Liquidez Corrente = Ativos Circulantes / Passivos Circulantes
Índice de Liquidez Seca: Ao excluir os estoques dos ativos circulantes, este índice fornece uma perspectiva mais conservadora da liquidez da empresa, sendo particularmente útil em setores onde os estoques são menos líquidos.
Liquidez Seca= Ativos Circulantes−Estoques / Passivos Circulantes
2. Days Payable Outstanding (DPO)
O DPO mede o período médio que uma empresa leva para pagar seus fornecedores após a compra de bens ou serviços. Um DPO mais longo pode melhorar o fluxo de caixa da empresa, mas também pode desgastar o relacionamento com fornecedores se for excessivamente prolongado.
3. Days Sales Outstanding (DSO)
O DSO indica o tempo médio que a empresa leva para receber o pagamento após uma venda a crédito. Um DSO mais curto é preferível, pois significa que a empresa está coletando seus recebíveis mais rapidamente, melhorando o fluxo de caixa.
4. Days Inventory Outstanding (DIO)
O DIO reflete o tempo médio necessário para vender todo o inventário. Um DIO mais curto indica eficiência na gestão de estoques, enquanto um DIO mais longo pode sinalizar excesso de estoque ou problemas nas vendas.
5. Ciclo de Conversão de Caixa (CCC)
O CCC integra DIO, DSO e DPO para mostrar quanto tempo leva para a empresa converter seus investimentos em inventário em caixa. Um CCC mais curto é ideal, pois indica que a empresa está convertendo suas despesas em caixa mais rapidamente.
Cada um desses indicadores oferece insights valiosos sobre diferentes aspectos da gestão financeira e operacional da empresa, permitindo que os gestores financeiros tomem decisões mais informadas e estratégicas.
Desafios de Gestão de Capital de Giro
A gestão eficiente do capital de giro é uma tarefa intrincada que vai além da simples manutenção de um saldo positivo. Ela se entrelaça com diversas operações e processos da empresa, tornando-se um desafio multifacetado que exige uma abordagem estratégica e bem fundamentada.
1. Flutuações de Mercado
A volatilidade do mercado pode impactar diretamente os ativos circulantes, seja através de flutuações nas taxas de câmbio, variações nos preços das matérias-primas ou alterações nas condições de crédito. As incertezas sobre as cadeias de suprimentos, como destaca o Working Capital 22/23 da PwC, significam que determinar o nível certo de capital de giro será cada vez mais importante e excepcionalmente complexo.
2. Prazos de Pagamento e Recebimento
A discrepância entre os prazos de pagamento a fornecedores e de recebimento de clientes pode criar lacunas de liquidez, exigindo uma gestão cuidadosa para evitar déficits de caixa. O equilíbrio entre manter relações saudáveis com fornecedores e otimizar o fluxo de caixa pode ser um ato de equilíbrio delicado, especialmente em um ambiente econômico desafiador.
3. Instabilidade de Estoques
Manter um equilíbrio entre evitar excesso de estoque (que vincula o capital) e garantir que não haja falta de produtos (que pode perder vendas) é um ato de equilíbrio delicado. Conforme destacado pela PwC, a instabilidade do inventário, exacerbada por disrupções na cadeia de suprimentos, está drenando o caixa, com empresas adotando uma abordagem de “just in case” para a gestão de inventário. Este método, embora proporcione uma certa resiliência, pode minar o desempenho do capital de giro.
4. Financiamentos menos acessíveis
Com as taxas de juros subindo e o financiamento se tornando menos acessível e mais caro, otimizar o Capital de Giro torna-se crucial. O mesmo estudo da PwC destaca que, embora o mercado de empréstimos corporativos continue sendo uma fonte primária de financiamento, os bancos estão se tornando mais seletivos em suas concessões de crédito.
5. Políticas de Crédito
A definição de políticas de crédito e a gestão de contas a receber, especialmente em mercados competitivos, podem ser um desafio ao tentar equilibrar a atratividade para os clientes e a manutenção da saúde financeira.
6. Expansão dos Negócios e Investimentos
A expansão e o crescimento dos negócios, embora positivos, podem exigir um capital de giro adicional para financiar novos projetos, contratações e infraestrutura. Além disso, a implementação de novas tecnologias para otimizar a gestão do capital de giro pode exigir investimentos significativos e uma curva de aprendizado para a equipe, o que necessita de um planejamento prévio muito bem estruturado mas que, se bem feito, pode trazer melhorias substanciais.
Estes desafios, quando não gerenciados de forma proativa, podem se tornar obstáculos significativos para a estabilidade financeira e o crescimento sustentável da empresa. Portanto, estratégias robustas e ferramentas adequadas são imperativas para navegar por esses desafios com eficácia.
7. Resolução dos sintomas dos problemas, sem tratar a causa
Apesar de a situação ainda parecer melhor agora do que era antes da pandemia, surgem indícios de que complicações na cadeia de abastecimento estão impactando muito a gestão do capital de giro.
Mesmo com alterações nas receitas, o capital de giro não estava mudando na mesma proporção ou direção. Isso pode significar que as empresas estão apenas lidando com problemas imediatos, sem resolver suas causas fundamentais. Se isso for verdade, como propõe o estudo da PwC que viemos citando, é possível que os mesmos problemas voltem a ocorrer no futuro, pois os métodos e processos de trabalho da empresa não foram modificados para prevenir essas dificuldades.
Estes desafios sublinham a necessidade de uma gestão de capital de giro robusta e estratégica, que não apenas aborde os sintomas, mas também as causas subjacentes das ineficiências e desafios do capital de giro.
Process Mining para superar desafios de Capital de Giro
A gestão de capital de giro, especialmente em um ambiente econômico volátil e complexo, requer uma abordagem que não apenas responda aos desafios atuais, mas também antecipe e mitigue riscos futuros. O Process Mining emerge como uma ferramenta valiosa nesse contexto, oferecendo insights e soluções práticas para os desafios de gestão de capital de giro que discutimos anteriormente.
O Process Mining é uma tecnologia que utiliza os dados de eventos armazenados nos sistemas de TI das organizações para criar uma representação visual dos processos de negócios. Ele permite que as empresas visualizem como seus processos estão sendo executados na prática, identificando gargalos, desvios e oportunidades para melhoria e otimização. Ao proporcionar uma visão clara e objetiva dos processos, o Process Mining facilita a tomada de decisões baseada em dados, promovendo a eficiência operacional e a excelência em processos.
No contexto financeiro, o Process Mining se torna uma ferramenta valiosa na gestão de processos que possuem impacto direto no capital de giro:
Contas a Pagar
Ao explorar o papel do Process Mining no contexto de Contas a Pagar, observamos que a tecnologia permite uma análise profunda dos padrões de pagamento, otimizando os ciclos e gerenciando os desembolsos de caixa de maneira mais eficiente. Ela assegura que os pagamentos sejam realizados conforme os termos acordados com os fornecedores, evitando penalidades e fortalecendo os relacionamentos comerciais, além de possibilitar a maximização do aproveitamento de descontos por pagamentos antecipados e a minimização de juros por atraso.
- Leia mais sobre Contas a Pagar: O que é, desafios e como gerenciar
Contas a Receber
Quando voltamos nosso olhar para Contas a Receber, o Process Mining previne inadimplências ao analisar padrões de pagamento, otimiza o fluxo de caixa através de monitoramento e reduz custos ao identificar ineficiências operacionais. Além disso, ao personalizar estratégias de cobrança com base no comportamento do cliente, fortalece o relacionamento com os mesmos e, ao simplificar a visualização e análise de dados, fomenta uma cultura orientada por dados e indicadores na gestão financeira da empresa.
- Leia mais sobre Contas a Receber: Como fazer uma gestão mais eficiente?
Order to Cash (O2C)
No processo Order to Cash (O2C), o Process Mining identifica etapas e atividades que causam atrasos no ciclo, permitindo a implementação de melhorias que reduzem os tempos de ciclo e liberam capital de giro. Ele contribui para a melhoria da precisão dos pedidos, identificando automaticamente erros e ineficiências no processo de pedidos.
- Leia mais sobre Order to cash: veja como alavancar sua eficiência operacional
Compras (P2P)
Por fim, no processo Purchase to Pay (P2P) ou Compras, o Process Mining oferece insights valiosos sobre o desempenho dos fornecedores e a eficiência do processo de compras, permitindo a otimização das práticas de compra e a negociação de termos mais favoráveis. Ele assegura que as compras estejam em conformidade com as políticas organizacionais e ajuda a otimizar todo o processo.
- Leia mais sobre Procure-to-Pay (P2P): O que é e Como Fazer de Forma Eficiente
A UpFlux Process Mining é a plataforma #1 na América Latina em Process Mining e pode ser a ferramenta perfeita para otimizar seu capital de giro. Utilizamos técnicas de mineração de processos e Inteligência Artificial para permitir uma visão clara e detalhada dos seus processos financeiros.
Ao visualizar o fluxo real de transações e processos, os gestores financeiros podem tomar decisões mais informadas e estratégicas sobre onde intervir. Além disso, ao monitorar os processos em tempo real, a UpFlux Process Mining auxilia na identificação de riscos e na garantia de conformidade com as políticas internas e regulamentações externas, protegendo a empresa contra penalidades e riscos financeiros. Tudo isso garante que que os processos estejam alinhados com os objetivos estratégicos da empresa. O Process Mining assegura que as operações diárias estejam consistentemente apoiando os objetivos de capital de giro e financeiros mais amplos.